Anjos e demônios
http://cidmarcus.blogspot.com.br/2012/02/anjos-e-demonios.html (adaptação)
... No mundo judaico, os anjos não têm ligação com o mal, embora alguns demônios, os agentes do mal, sejam anjos caídos. Estes anjos caídos, também chamados anjos da destruição, procuram sempre frustrar as tentativas dos seres humanos de cumprirem os mandamentos divinos. Quanto aos demais, os da luz, têm como missão principal a de levar a Deus as orações dos mortais. Algumas obras da Cabala prática contêm fórmulas mágicas para o controle dos anjos, embora fique claro que ninguém poderá usá-las em benefício próprio, invocando-os para a sua própria proteção ou para levar alguma vantagem, por exemplo.
ANUNCIAÇÃO
Em todas as tradições, desde a Mesopotâmia, o Egito, a Pérsia e nos mundos semítico, grego e romano, encontramos a crença nesses seres angelicais (aggelos, como se disse, é mensageiro, em grego). Simbolicamente hierarquizados, os anjos, quando nos aproximamos deles menos superficialmente, correspondem a uma escala de valores humanos, desde a mais evoluída (arcanjos), principalmente sob o ponto de vista ético e moral, à mais baixa situação do homem, entregue à sua vida instintiva, materialista e egoística (demônios, anjos caídos). A iconografia os representa com asas e sempre de branco para nos transmitir ideias de imaterialidade, elevação e de pureza. Os “daimons” representam as funções inferiores que no ser humano se valem da escuridão da sua vida inconsciente para levá-lo à degradação e ao afastamento da vida superior. Os “daimons” podem, muitas vezes, proporcionar sucesso material, riqueza, glória mundana, inclusive sob o ponto de vista intelectual. É sob este último ponto de vista, por exemplo, que devemos entender a história de Fausto e de Mefistófeles. Foi neste sentido, por exemplo, que o cineasta russo Aleksandr Sokurov nos apresentou a sua teatralogia composta de Moloch, Taurus, O Sol e Fausto.
Os textos bíblicos e a literatura neles baseada, que recolheu a matéria angelical das religiões mesopotâmicas e iranianas, sempre a apresentou de um modo pouco coerente, confuso até. Todavia, acreditamos que os dados esparsos podem ser sintetizados em quatro elementos principais: a) os anjos são criaturas divinas, isto é, criadas por Deus; b) exercem a função de intermediários entre Deus e os humanos; c) dentre essas criaturas, algumas se mantiveram fiéis a Deus; d) outras se rebelaram, transformando-se em anjos caídos, demônios.
Na tradição judaica e nas suas dissidências (cristianismo e judaísmo), os anjos são sempre, como se disse, seres puramente espirituais que funcionam como intermediários entre o mundo divino e humano. Entre os antigos hebreus, os anjos eram mensageiros dotados de corpo, aos quais, quando de sua visita, deveria ser oferecida hospitalidade, pois agradeciam a seus hospedeiros prometendo-lhes prosperidade e posteridade feliz.
No mundo católico, é ensinado que os anjos são seres espirituais criados anteriormente ao homem, num estado de felicidade e graça, mas com a liberdade de escolher entre o Bem e o Mal. É por essa razão que há os anjos bons (Gabriel, Miguel, Rafael etc.) e os anjos maus (Satanás, Lúcifer, Belzebu e outros).
Segundo os dogmas da Igreja Católica, os demônios são anjos caídos que, com Satanás à frente, se revoltaram contra Deus. Segundo as obras de Demonologia mais importantes (Santo Tomás de Aquino, Jean Wier (fig.esq.), Jean Bodin e outros), há 6.666 legiões de demônios; cada uma delas se compõe de 6.666 anjos tenebrosos, com 72 príncipes, duques, marqueses, condes e prelados. Na Demonologia mais aceita, cada mês aparece associado a um demônio: Belial, janeiro; Leviatan, fevereiro; Satã, março; Astarte, abril; Lúcifer, maio; Baaberith, junho; Belzebuth, julho; Astaroth, agosto; Thamuz, setembro; Baal, outubro; Hécate, novembro; e Moloch, dezembro.
Segundo uma classificação admitida, com base no neoplatonismo (Pseudo-Denys), mas não submetida a ato de fé, os anjos bons são distribuidos em nove coros, em importância descrescente: serafins, querubins, tronos, dominações, virtudes, potestades, principados, arcanjos e anjos. Os três primeiros coros formam a hierarquia mais elevada e têm relação direta com Deus. Os três seguintes formam as chamadas ordens governantes e os três últimos formam as ordens executivas.
Pseudo-Denys é o nome de um escritor grego anônimo que viveu entre os séculos V e VI dC. Suas obras, durante muito tempo, foram atribuídas a Denys, o Areopagita, ateniense, santo, convertido por São Paulo e, segundo a tradição, o primeiro bispo de Atenas. As obras do Pseudo-Denys constituem uma síntese cristã de inspiração neoplatônica, assim denominadas: Hierarquia Celeste, Hierarquia Eclesiástica, Nomes Divinos e Teologia Mística.
SERAFIM
Os serafins são seres puros, sublimes, excelsos, como espíritos celestes da primeira hierarquia dos anjos, de extraordinária beleza. A palavra vem do hebraico “seraph”, arder; são espíritos de amor e de fogo; têm seis asas e usam escudo. São conduzidos por Uriel (luz de Deus), o lider das hostes angelicais. Uriel se manifesta como um leão de fogo do altar do Templo, para consumir os sacrifícios. Apareceu a Moisés como uma serpente para devorá-lo quando ele negligenciou a circuncisão de seu filho. Foi Uriel (fig.dir) quem secou o Mar Vermelho para que os judeus pudessem atravessá-lo quando do êxodo. Apareceu aos pais de Sansão para anunciar que eles teriam um filho que salvaria Israel dos filisteus. Junto com Gabriel, Miguel e Rafael é um dos anjos que cercam o trono da glória. Como representa a luz do ensinamento de Deus, o nome Uriel é escrito em amuletos destinados a ajudar as pessoas no estudo da Torá.
GABRIEL
Os querubins (etimologicamente, aquele que intercede, do acádio) eram jovens, espíritos celestes de grande beleza. Alados, com semblante de jovens ou crianças, repletos de conhecimento, são representados por penas de pavão. Um querubim guarda a entrada do Jardim do Éden para impedir que o homem volte a nele entrar. Acima da Arca da Aliança (tabernáculo no qual se guardam as tábuas da lei mosaica), Deus revelou-se a Moisés entre dois querubins. Quando Israel é fiel a Deus, dois querubins se abraçam (o amor de Deus por seu povo). Quando Israel se torna infiel, os querubins aparecem com as costas voltadas, significando esta postura a ira de Deus e o prenúncio de calamidades. Quem conduz os querubins é Jophiel (fig.esq.).
Tronos são os anjos que carregam o trono de Deus, significando majestade e justiça, representados por rodas de fogo como o Sol. São conduzidos por Japhkiel. Dominações é o nome dos anjos que usam o cetro e a espada, simbolizando o poder de Deus sobre o mundo material. São liderados por Zadkiel. Virtudes, no Cristianismo, são os anjos que carregam o emblema da Paixão de Cristo, sendo conduzidos por Haniel.
Poderes (Potestades) são os protetores da humanidade e usam uma espada de fogo, sendo liderados por Rafael.
RAFAEL
Especializado em curas, como seu nome indica (Rafael quer dizer Deus curou). Seu nome aparece em amuletos usados para a cura e prevenção de doenças. Fica postado atrás do Trono da Glória e às costas do homem. É um dos quatro anjos da presença divina. Leva em seu peito uma tabuleta onde o nome de Deus está gravado. Seu símbolo é a serpente, sempre ligada à arte médica. Rafael viaja nas asas do vento. Diz-se que quando Deus estava para criar Adão, ao contrário de alguns anjos, Rafael o apoiou. Principados são os anjos protetores dos soberanos; carregam espada, cetro e cruz. São liderados por Chamael. Arcanjos ficam à volta do Trono de Deus e são conduzidos por Miguel. Os anjos, finalmente, constituem o grande contingente anônimo que transita continuamente entre o céu e a terra desempenhando inúmeras e não especificadas atribuições.
Os rabinos, segundo antigas tradições, registram uma hierarquia diferenteda dos nove coros, distribuindo-a segundo os dez seguintes nomes: 1) Jeová – Deus Pai – região de pura essência que flui através do anjo Metatron, guardião dos tesouros celestiais. Em Metatron está contido o nome de Deus. Ele é identificado às vezes pelo nome de Raziel. É o guia do “primum mobile”. 2) Jah – Messias, Logos – cujo poder desce através do anjo Masleh às esferas do Zodíaco. Este espírito atua no Caos e dele dependem os quatro elementos pela ação de Raziel, que é o regente de Adão. 3) Ehjeh – tem relação com o Espírito Santo, cuja divina luz é recebida pelo anjo Sabathi, que a comunica através da esfera de Saturno.
A parte visível da ação dos três espíritos acima mencionados aparece através do quarto nível, chamado El, nome que denota poder, força, luz, através do qual fluem a graça divina e a piedade. Quem faz essa passagem é o anjo Zadkiel através da esfera de Júpiter. Elohi, que tem a espada e é a mão esquerda de Deus, usa o anjo Geburah (Gamaliel) para que a energia penetre pela esfera de Marte, dando força em tempos de guerra e aflição. Tsebahot, o senhor das hostes, atua através de Rafael, passadas as suas energias atrvés da esfera solar. Elion atua através de Miguel, sendo Mercúrio o seu planeta, na medida em que ele proporciona movimento, inteligência, comunicação. Adonai, mestre, senhor, através de Haniel, cobre a esfera de Vênus. Shadai, pelo anjo Gabriel, atua na esfera lunar. Elohim, a fonte de conhecimento, sabedoria e compreensão, vem pelo anjo Jesodoth, e é recebido pela esfera terrestre
O tema angelical ficaria incompleto sem uma menção ao deus grego Hermes (fig.dir.), na sua função de deus da comunicação, ao unir os três mundos, o céu, a terra e o inferno. Hermes é arquetipicamente um “angelus”, um intermediário entre o Olimpo (Zeus) e os humanos, sendo conhecido, dentre outros apelidos, pelo nome de “evvangelion”, o deus da boa notícia. Com efeito, Hermes é o guia da busca espiritual para que através de um trabalho sobre os quatro elementos seja possível salvar o mundo e a natureza num plano cosmogônico e fazer nascer dentro de cada homem um novo ser iluminado pelo Sol da sabedoria (Sophia)...
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